v. 3 (2009): Claude-Gilbert Dubois - Problemas da Utopia
Esta pequena obra foi publicada pela primeira vez em 1969; destinada a dar subsídios aos candidatos à Agrégation de Lettres Modernes, concurso público de professores franceses, contém uma análise das obras do programa (Platão, A República; Thomas More, A utopia; Campanella, A Cidade do Sol; Fénelon, As aventuras de Telêmaco). Mas Problemas da utopia, de Claude-Gilbert Dubois, professor da Universidade de Bordeaux, conheceu uma importância e uma permanência maior: há nesse livro uma definição do gênero utópico que vai contra a banalização então dominante, alimentada pelo pragmatismo que reunia o conservadorismo e a esquerda. Esse estudo vem de uma quadra especial do pensamento social: o movimento de maio de 1968, cujos ecos estão nesse livro, exigia uma nova teoria da transformação social com ênfase num individualismo que se revelará mais mimetizador do anarquismo liberal do que voltado para a construção de uma vida associada solidária. Ou, talvez, num encontro dessas duas vertentes. Dubois vê a utopia como um gênero literário que reúne as dimensões mais várias do saber humano: a ética, a poesia, a história, a filosofia, a literatura, a política, a religião, a mitologia, a psicologia, a ecologia etc. A utopia possui a sua própria história, que de certa maneira é a história do inconformismo intelectual diante das formas do mundo estabelecido. Dubois localiza no plano ético a resolução do problema utópico, pois considera que todas as contradições que emanam da construção utópica correspondem ao que poderíamos definir pelas palavras humanismo e desumanização. A dimensão libertadora da utopia está no fato de que ela buscava adaptar não o indivíduo ao meio, mas o meio ao indivíduo. A prática utópica da recusa do real vem em defesa “da dignidade do homem ultrajada por uma engrenagem social que corrompe suas faculdades e impede seu completo desenvolvimento”.
Publicado:
2017-03-30