“TENDO A SUA PRÓPRIA LETRINHA... É UM PESO MAIOR”. ANÁLISE DE PRÁTICAS DE LETRAMENTO A PARTIR DE ATAS DE UMA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA QUILOMBOLA

Autores

  • Luanda Soares Sito UNICAMP

Resumo

Este trabalho corresponde ao nosso projeto de mestrado, o qual tem por objeto investigar as práticas de letramento no processo de regularização territorial em uma comunidade quilombola. O recorte que trago para esta comunicação é uma análise documental dos escritos produzidos na comunidade, decorrentes do processo de titulação das terras.ubsidia esta pesquisa a noção de linguagem bakhtiniana, pela qual tomamos a leitura, assim como a linguagem, como uma ação dentro de um contexto histórico para concretizar-se. Ou seja, os usos da linguagem que ocorrem em uma interação estão imersos (e emergem) em um contexto sócio-histórico. Nesta orientação, a própria noção de diálogo é ampliada, pois compreende o conceito de refração, que é o processo no qual o signo passa a ser algo apenas ao vincular-se a os outros enunciados, justamente porque as significações não estão dadas no próprio signo. A refração nos propõe entender as significações como “construídas na dinâmica da história e estão marcadas pela diversidade de experiências dos grupos humanos, com suas inúmeras contradições e confrontos de valorações e interesses sociais” (FARACO, 2009, p. 51). Essa concepção de diálogo inclui também a ideia de diálogo face a face, que será utilizada para as análises interacionais; pois, para o Círculo de Bakhtin, o diálogo pode ser compreendido num sentido mais amplo, ou seja, não apenas como a comunicação em voz alta, de pessoas que estão face a face, mas como toda comunicação verbal, de qualquer tipo que seja (BAKHTIN/VOLOSHINOV, 1995, p. 107). A partir dessa concepção ampliada de diálogo, vamos olhar para o como a disputa pela terra está se refratando nos textos que são produzidos no local. Para isso, vamos observar um dos gêneros locais: as atas da Associação Comunitária Quilombola. As atas passaram a fazer parte das escritas na comunidade por uma exigência da negociação pelo título da terra: para dialogar com os agentes externos, tinha de ser representados pela Associação Comunitária. Sua escrita é atividade das secretárias da Associação, função sempre ocupada por mulheres jovens que dominam a escrita. Isso é uma estratégia bastante usada localmente: distribuir as funções que exigem escrita para os mais escolarizados. Esse gênero emergiu com a Associação e, ao longo dos seis anos da Associação, foi mudando muito. Desde as primeiras atas, que se distanciavam da estrutura composicional do gênero do tema e só focavam atividades com agentes externos, um segundo momento em que as atas aproximavam-se da estrutura composicional, mas não davam conta do tema, até as mais atuais que não só aproximam-se da estrutura, como do tema e dão conta de retratar ações mais cotidianas localmente, como a organização de festas e eventos na comunidade. Nas análises iniciais, percebemos processos de apropriação e mudança nos gêneros que emergiram nesse contexto de atuação política vivenciada pela comunidade.

Biografia do Autor

Luanda Soares Sito, UNICAMP

Área de Lingüística Aplicada

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Publicado

2010-05-06