Preposições ligadas a verbos na fala de uma criança em processo de aquisição de linguagem e de dois sujeitos agramáticos em processo de reconstrução de linguagem ou “eu e você? diferente.”

Autores

  • Lou-Ann Kleppa IEL/Unicamp

Resumo

Esta tese situa-se na área de Neurolingüística, buscando dialogar com a área da Aquisição de Linguagem. Seu ponto de partida é a hipótese do espelho invertido, proposta por Roman Jakobson ([1956] 1971), que prevê que os primeiros elementos lingüísticos adquiridos por uma criança serão os últimos sujeitos à dissolução na fala do sujeito afásico. O objeto de estudo desta pesquisa é a preposição ligada a verbos na fala de uma criança (R) em processo de aquisição de linguagem e de dois sujeitos afásicos com agramatismo (MS e OJ) em processo de reconstrução de linguagem. Não se tem notícia de outros estudos que tomem a preposição como ponto de articulação para o contraste da fala de crianças e sujeitos afásicos. Foram examinados dados longitudinais, dialógicos e de fala espontânea de R, MS e OJ e dados dialógicos dos sujeitos afásicos, coletados em situações experimentais. Estes dados, de naturezas diferentes, foram examinados separadamente, para que fosse possível contrastar o funcionamento da preposição (i) na fala da criança versus dos sujeitos afásicos quando envolvidos numa mesma situação dialógica: a conversa informal; (ii) e na fala dos sujeitos afásicos em diferentes situações dialógicas: conversa informal versus situações experimentais. Os resultados obtidos indicam que a classificação das preposições mais adequada é a proposta pela Hipótese da Gramaticalização, já adotada em Kleppa (2005a) para dispor as preposições num continuum de diferentes graus de gramaticalização. Assim, questões de freqüência, distribuição, forma e sentido da preposição determinam seu uso na fala da criança e dos sujeitos afásicos. Os resultados também indicam que a diferença de uso de preposições na fala da criança versus sujeitos afásicos, e dos sujeitos afásicos em conversas espontâneas versus situações experimentais é quantitativa, não qualitativa. Contudo, a maior diferença encontrada diz respeito ao estatuto de sujeito falante da criança e do sujeito afásico. A partir da análise de dados podemos dizer que a criança e os sujeitos afásicos movimentam-se na mesma língua, mas estabelecem diferentes (e incomparáveis) relações com ela. No âmbito da Neurolingüística, a Teoria da Adaptação orienta esta pesquisa, ao passo que no âmbito da Aquisição de Linguagem, a teorização de De Lemos ilumina algumas questões pontuais. Davidson, com seu estudo sobre malapropismos, apresenta uma visão interessante do ato comunicativo/interpretativo e assim chegamos a diferentes concepções de língua, falante e fala daquelas adotadas nos estudos correntes sobre preposições, fala de criança ou afásico.

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Publicado

2010-01-26

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Seção

Artigos